sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Peculiaridades singulares do Ofício de Venerável Mestre...

Como tema para o texto que publico hoje, escolhi a figura representativa da estrutura de uma Respeitável Loja Maçónica,  o seu Venerável Mestre.

O cargo de Venerável Mestre é ocupado por um Mestre do quadro de Obreiros de uma Loja que foi eleito pelos seus pares para esse efeito.

Das várias funções ou atributos que lhe são confiados fazem parte a direcção (administrativa e espiritual) da Loja e a representação da Loja e seus obreiros na estrutura da Obediência em que se encontra filiado.
- O que parece pouco, mas não o é!-

A origem deste cargo ou função - E eu sou dos que prefere que este seja considerado apenas como um “Ofício”, pois se é instalado nesse Ofício, e por isso mesmo o Venerável Mestre é um “oficial da Loja”, e tal, não como um cargo em si, e explicarei adiante o seu motivo - é remetida para tempos imemoriais e também à época das guildas de construtores de catedrais e profissões ligadas à Ars Structoria (Arte da Construção) na Idade Média, em que um Mestre entre os mestres ou companheiros encarregados pela execução de uma obra, seria escolhido para dirigir os seus trabalhos e para tal era designado o "Mestre da Loja". 
A permanência do eleito para o ofício nesse cargo era variada e tanto poderia ser renovada anualmente ou apenas permanecer nela durante o tempo que durasse a obra em que se encontrava a laborar.

Mas o que me remete para este tema, em que analiso o ofício de “Venerável Mestre”, não é a sua “origem” ou funções acometidas, mas sim algumas singularidades peculiares que se afiguram ao mesmo.

Geralmente é eleito ou candidato a tal, alguém a quem foram reconhecidas capacidades para que possa exercer essa função, a mais alta em Loja, durante determinado tempo – regra geral, é uma função anual – e que nos tempos transactos tenha tido como função ter sido Vigilante da Loja. Função esta que se divide em outros dois "ofícios", o Primeiro Vigilante e o Segundo Vigilante, que são em conjunto com o Venerável Mestre, as “Luzes da Loja”, isto é, os seus “Oficiais maiores” assim por dizer…

Os Vigilantes têm como principal função a formação dos Obreiros a seu cargo respectivamente e auxiliar o Venerável Mestre na condução ritual dos trabalhos maçónicos da respectiva Loja.

Mas voltando ao tema, se se espera que a pessoa que será eleita para o exercício deste ofício de Venerável Mestre seja uma pessoa bastante capacitada seja pelo seu conhecimento ritual, administrativo  ou até pela sua forma de estar na vida, uma coisa é certa, depois de eleito e durante a aplicação e execução do Ritual em Loja, o Venerável Mestre parece ser a pessoa que menos conhece a sua ritualidade e formas administrativas; o que poderia significar que tinha sido eleito para guiar os destinos da Loja, um mestre impreparado para tal desígnio. 

E este sim, é o tema fulcral do texto que apresento. 

O facto de o Venerável Mestre, a pessoa que a Loja elegeu, o membro a quem confiou e entregou os seus destinos para um determinado tempo – o Veneralato – ser a pessoa que durante o Ritual mais dúvidas tem e que apresenta ou até a pessoa que mais perguntas faz… 
Seja tanto para obter “conhecimento” como para se certificar de algo. O certo é que as faz! E nem as deixaria de (poder) fazer.

Para quem é Iniciado nestas andanças saberá que os questionamentos que o Venerável Mestre faz, fazem parte integral do cumprimento e observância do Ritual em execução na Loja e não de qualquer ignorância da sua parte – nem o poderia ser! -, mas tal se visto pelo prisma que Vos apresento, por certo chegarão à mesma conclusão que eu, hipoteticamente falando!

Antes demais, vou explicar de forma ligeira porque prefiro dizer que se é investido ou instalado numa função ou ofício e não num cargo.

Primeiro, porque um cargo remete para autoridade e afins… 
Quanto a mim o problema não reside na autoridade, porque a mesma faz falta, o problema é mesmo os “afins”…

Segundo, quando alguém exerce uma função ou ofício, apenas as tarefas designadas a tal serão executadas e nada mais…  
E é isso que se espera que seja cumprido! 

Para além de que alguém investido numa qualquer coisa, saberá que tal exercício será meramente temporal e dependente da vontade de outrem e não apenas exclusivamente da sua. Já os cargos por vezes se podem assumir como definitivos... 
Poderia parecer apenas uma mera questão linguística e de semântica, mas parece-me que é de uma relevância tal que não deve ser descortinada por ninguém.

Por isso é que digo que prefiro que tal função de Loja seja um ofício por isto mesmo!

Alguém é escolhido para desempenhar a função, executando as tarefas que lhe são relegadas e deve-o fazer com espírito de missão e entrega e fazendo-o porque sabe que assim o deve fazer.
Já por sua vez, se estivesse a cumprir um cargo, poderia esse alguém esperar algo diferente daquilo que é o propósito desse ofício e o exercesse de uma maneira que não fosse a mais correcta para tal.

E se habitualmente os cargos ostentam-se, as funções são cumpridas e os ofícios desempenhados...

E é por isto que citei que facilmente se pode concluir que considero que o "Venerável Mestre não faz a Loja", mas sim o seu inverso, ou seja, "a Loja é que faz o seu Venerável Mestre", pois este foi escolhido e sufragado pelos demais e devem estes, por isso mesmo (!), no auxiliar naquilo que ele necessite para levar a bom porto a missão que, por todos, lhe foi confiada.

- Existe quem entenda o contrário e por isso aja dessa forma, tendo eu apenas que o respeitar dentro dos limites a que a Fraternidade e a minha tolerância assim me o obriguem a tal - .

Mas voltando ao tema, porque é que eu afirmo que o Venerável Mestre será o obreiro que no decorrer do ritual e em sessão de Loja é a pessoa que mais desconhecimento tem sobre o que por lá se passa?!

Porque:

·        Para saber se os Maçons que se encontram no Templo estarão a coberto dos profanos nos seus trabalhos de Loja, tem de questionar um dos Oficiais da Loja;

·        Para estar salvaguardado que as pessoas que estão no Templo são filiados da Ordem, questiona outros Oficiais da Loja, bem como inclusive, até para saber onde ele e outros se sentam e os motivos para tal ,tem de questionar outrem para obter o conhecimento sobre tal facto, não podendo ele se sentar em qualquer sítio;

·        Para saber qual o horário designado para o trabalho em Loja  e o espaço temporal em que se encontra, tem de questionar outros Oficiais da Loja, não bastando apenas olhar para o seu relógio;

·        Para conhecer a identificação e a assiduidade dos obreiros efectivos da Loja, encarrega outro Oficial da Loja para o fazer, não bastando olhar em volta para ter a percepção de quem se encontra no Templo;

·        Também é um Oficial da Loja que lhe comunica e relembra qual a Ordem dos Trabalhos que o próprio Venerável Mestre definiu para essa Sessão;

·         Para abrir e fechar ritualísticamente os trabalhos da Loja tem de ser auxiliado por um conjunto de Oficiais, não o podendo fazer sozinho;

·     São outros Oficiais da Loja que se encarregam de administrar (ou auxiliar nesse sentido) nas questões financeiras, espirituais e fraternais da Loja. Nomeadamente o Venerável Mestre ainda questiona determinados Oficiais da Loja se quem se encontra na assembleia se encontra satisfeito pela forma de como os trabalhos foram realizados.

Por tudo isto (e mais que não expus) acima, é que poderia eu considerar que o Venerável Mestre será a pessoa que menos sabe o que se passa na sua “casa”.

E é por isso mesmo que também, que os seus Oficiais e restantes membros da Loja o auxiliam na execução desses mesmos trabalhos bem como na direcção da Loja.

Daqui se pode concluir o que eu afirmei anteriormente, e por estes mesmos motivos (!), que uma “Loja não é do Venerável Mestre, mas o Venerável Mestre é que é da Loja”, pois é a Loja que faz as “coisas” acontecerem, sendo o Venerável Mestre uma espécie de maestro que gere a orquestra, que neste caso é a Loja Maçónica da qual faz parte tanto como obreiro bem como ao mesmo tempo, investido na função que exerce. Um equilíbrio difícil por vezes…

Ou seja, o Venerável Mestre não está solitário na Loja bem como uma Loja não pode funcionar sem o seu Venerável Mestre.

- Para uns, isto é simples e fácil, para outros… “o cabo dos mundos”… -

O que é certo é que o exercício deste Ofício não pode nem deve ser levado como se fosse mais um “passeio pelo parque”, mas antes como uma demanda per si e pela Loja, e que a eleição para essa função foi o culminar de um período em que se encontrou ao serviço pela Loja e que começou quando foi Iniciado ao grau de Aprendiz e posteriormente por todos os ofícios que foi desempenhando ao longo dos tempos na Loja e pela Loja e que aquando o  final do seu veneralato, nesse momento, se remeterá às Colunas ou à função que o seu sucessor considere como sendo a mais válida para a Loja em si. Apartir de aí, outro mestre, por todos eleito, seguirá nos “comandos" da Loja; seguindo-se um ciclo repetido vezes sem conta desde o “início dos tempos”…

Assim e simplificando o assunto, o Venerável Mestre apenas será aquilo que a sua Loja queira que ele seja. 
E esta é que é a peculiaridade verdadeira que se pode assacar à função que ele exerce na Loja.
Porque o que importa, realmente, é a Loja… 
O resto, é simples “matéria e espírito”!
(Ou o Ego de alguns... e isso não tem qualquer valor em Maçonaria).

PS: Obviamente foi com alguma leveza e “mente aberta” que abordei o tema, pois de facto na realidade, o Venerável Mestre tudo conhece sobre o que se passa e deve passar no seio da Loja a que preside.
Mas não deixa de ser peculiar a forma de como é executado o Ritual e os “porquês” dos questionamentos que são feitos pelo Venerável Mestre no decorrer dos trabalhos da Respeitável Loja . 
Mas isso já são “contas para outro rosário”…

Sem comentários:

Enviar um comentário

Este Blog é um espaço onde impera a Verdade,a Liberdade,a Justiça, a Tolerância e o Bom Senso.
Por isso Você é Livre de opinar.
Apenas lhe é pedido respeito pelo autor.