sexta-feira, 28 de setembro de 2018

"Salários na Maçonaria..."

Normalmente quem está fora da Maçonaria, no mundo profano, ouve habitualmente referências a salários, pagamentos de salários, aumentos de salários e afins…

Hoje venho abordar um pouco sobre o que este tema concerne, e porque dado ainda me encontrar investido nas funções de Primeiro Vigilante da Respeitável Loja da qual ainda sou obreiro do seu quadro de membros, fará todo o sentido o abordar.

Numa Loja Maçónica quem tem o dever de, ritualmente, pagar os salários aos obreiros da Loja é o Primeiro Vigilante que se encontre em funções na Respeitável Loja.

A palavra salário deriva da palavra latina “salarium” e era a forma como eram pagos os vencimentos dos soldados na Roma Antiga, a qual era feita através de sal, perpetuando-se o uso dessa expressão até aos presentes dias.

Há referências ao pagamento de salários aos operários de construção civil da Idade Média e de épocas posteriores a esta, nas “Old Charges” ou “Cartas de Deveres”, tendo esses pagamentos sido regulados e regulamentados através da elaboração deste tipo de documentos.

Já na Maçonaria actual, este dito “pagamento” é feito através da obtenção de conhecimento, da progressão gradativa na Ordem,  pois  nada ou ninguém pode esperar ser ressarcido do seu labor de outra forma que não esta.

- Não esquecer que os metais são deixados fora do Templo - .

Apenas o auto-aperfeiçoamento moral de cada um, executado com o aproveitamento da utilização da vasta simbologia maçónica ao seu alcance e da boa compreensão das alegorias que revestem a Maçonaria, da prática da fraternidade entre todos e aplicando a filosofia maçónica na sua vida, serão a melhor retribuição que o maçom pode esperar para si; aliás no Salmo 128:2: “Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem” reside o “core” do salário do Maçom.

 E é nas Sagradas Escrituras Cristãs que encontramos também menção ao direito ao salário de quem trabalha e à hora a que o mesmo deve ser realizado, nomeadamente em Mateus 20:6-9: “E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos, e perguntou- lhes: Por que estais ociosos todo o dia?
Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha, e recebereis o que for justo. E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o jornal, começando pelos derradeiros, até aos primeiros. E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um.
”.

Saliento ainda que o local onde este salário deve ser realizado é sugerido em Rute 2:19 : ”Então disse-lhe sua sogra: Onde colheste hoje, e onde trabalhaste? Bendito seja aquele que te reconheceu. E relatou à sua sogra com quem tinha trabalhado, e disse: O nome do homem com quem hoje trabalhei é Boaz.”.

Também o trabalho executado pelo Maçom o foi realizado através da sua própria força! Por isso nada melhor que também esta (força) seja relevada e que ele aufira o seu pagamento, nada menos que, na Coluna que a Força representa.

E qualquer maçom pode ver aumentado este seu salário, pois com estudo, empenho, frequentando os trabalhos das sessões da sua Respeitável Loja e apresentando Trabalhos que demonstrem os seus conhecimentos, assim poderá tal acontecer; sendo isso traduzido pelo aumento da sua graduação na Loja, subindo de Grau na Maçonaria.

Deste modo, retiro qualquer dúvida que possa haver face ao pagamento de salários na Maçonaria, porque ninguém pode esperar qualquer proveito ou retorno económico com a sua adesão a esta tão Augusta Ordem. Aliás, por norma passa-se o seu reverso, despende-se é algum tempo e dinheiro com a pertença a esta Instituição, nomeadamente são gastos temporais com a presença e frequência das sessões da Loja a que se pertença ou outras que se visite bem como com gastos financeiros referentes ao pagamento de quotas mensais e de subidas de graus, para além das tão habituais contribuições para os fundos de maneio das Lojas e seus “Troncos da Viúva” que são normalmente utilizados para apoiar algum Irmão ou família necessitada, ou outros quaisquer projectos de âmbito social que a Loja apoie.

Outras formas de pagamento  de salário  poderão decorrer na Maçonaria ou no seio das Obediências Maçónicas, mas decorrem apenas das suas obrigações administrativas, nomeadamente o pagamento dos vencimentos aos funcionários administrativos que trabalham nelas bem como algum tipo de “auxílio de custo” a quem, por qualquer motivo necessário e relevante, represente a própria Obediência.

Assim, quanto a salários em Maçonaria, seus “ganhos” ou “gastos”, é mais “o que sai do bolso do que o que entra”, aliás, esse é zero!

Apenas podemos contar com Conhecimento e Fraternidade!

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

"O Nível..."

No texto que hoje publico vou abordar uma das Jóias – o Nível - que para mim tem mais relevância em Maçonaria, dado também ser de momento a Jóia que envergo devido às funções que presentemente exerço na Respeitável Loja da qual sou membro do seu quadro de obreiros, tendo eu sido investido no ofício de Primeiro Vigilante durante este  veneralato que agora termina.

O Nível é a Jóia do Primeiro Vigilante. Esta jóia permite que ele seja reconhecido pelos outros maçons presentes no Templo Maçónico durante o decorrer dos “Trabalhos” de uma Respeitável Loja.  Sendo o Primeiro Vigilante o primeiro oficial da Loja precedido pelo Venerável Mestre e seguido pelo Segundo Vigilante; representando os três as designadas “Luzes da Loja”.

O Nível  é um instrumento cuja simbólica representa o princípio da Igualdade, a base do direito natural entre os Homens, mas principalmente entre todos os maçons, que apesar das suas diferenças, aos olhos do Grande Arquitecto do Universo, são todos iguais e sem qualquer tipo de distinção entre eles.

O Nível faz parte do grupo de instrumentos que em conjunto com o Esquadro e o Prumo,  são designados como sendo as “Jóias Móveis " da Loja.

O Nível, como instrumento de construção, é destinado, principalmente, a determinar a horizontalidade de um plano e averiguar a diferença ou a igualdade entre dois pontos no plano.

O Nível é habitualmente formado por um esquadro e um prumo que se encontra pendente no seu centro, permitindo desse modo medir a verticalidade e a horizontalidade em simultâneo, de modo que também seja passível de serem estabelecidas linhas paralelas no traçado de uma obra. Outra forma de representação do Nível é a de um triângulo, saindo uma perpendicular do seu ápice, ficando esta solta no espaço, com um pequeno peso na ponta, dividindo desse modo o triângulo em dois pequenos esquadros.

O Nível por ser formado por um esquadro (a jóia do Venerável Mestre), mas menos acurado que este, contudo mais completo que o Prumo (a jóia do Segundo Vigilante), tanto que esse é também um dos motivos pelos quais que também se considera o Primeiro Vigilante como sendo o natural substituto do Venerável Mestre nas ausências deste.

O Nível também em conjunto com o esquadro possibilita que a construção horizontal e vertical seja empregue de forma correcta, pelo que se associarmos os tijolos utilizados numa construção como sendo maçons na sua Loja, a matéria-prima, facilmente podemos concluir que a aplicação do nível pelo Primeiro Vigilante leva os maçons à igualdade e à sustentação do Templo maçónico. Por isso considera-se o Nível como sendo uma ferramenta passiva pelo facto de este ser um instrumento que a todos nivela e submete às Leis maçónicas, sem qualquer tipo de distinção.

- Não deixa de passar despercebido o facto de que a jóia do Primeiro Vigilante ser formada pelo conjunto das jóias do Venerável Mestre e do Segundo Vigilante, sendo estes considerados as “Luzes da Loja”. Interessante! –

O Nível também se encontra ligado à forma de como o Aprendiz chegará a Companheiro, pois ele advirá do Prumo para chegar ao Nível, transitando do Setentrião para o Sul da Loja, ficando às ordens e sob a formação e responsabilidade do Primeiro Vigilante.
 - Aliás costumo afirmar em tom, quicá, jocoso que o maçom é aprumado primeiro pelo Segundo Vigilante e nivelado depois pelo Primeiro Vigilante.-

Aproveito para referir que na maçonaria operativa, uma das funções do capataz ou superintendente-da-obra, o actual Primeiro Vigilante, era a de verificar frequentemente o nivelamento da construção a seu cargo com esta ferramenta de tão grande importância, de modo a que a edificação decorre-se de forma estável e firme, sem qualquer desnível ou irregularidade.

A própria solidez de um edifício somente pode ser atingida através da utilização do Nível (ressalvando mais uma vez a relação força/sólido/fortaleza/firmeza que aparecem em referência ao Primeiro Vigilante), pois sem ele, relegaríamos a importância da consonância e do equilíbrio entre o crescimento em altura e a respectiva expansão no solo durante a construção de um edifício. Simbolicamente isto pode ser facilmente descortinado de que a progressão vertical deve estar acompanhada por uma correspondente expansão horizontal, pois o Nível do Primeiro Vigilante em conjunto com o Prumo do Segundo Vigilante, demonstram/ensinam a lição de que o equilíbrio é a todo momento necessário, facto este indispensável a cada etapa de crescimento ou à sã progressão natural, seja ela maçónica ou profana, indicando assim que o crescimento e a elevação se expandem ao chegar a maturidade, transmitindo a estabilidade e a frutificação das nossas aspirações.

É através do auxílio e da utilização do Nível que compete ao Primeiro Vigilante aplicar de forma correcta e transversal os conhecimentos que detém, agindo de forma imparcial, tolerante e harmoniosa, mantendo a rectitude e igualdade entre todos obreiros  perante as leis e morais maçónicas (apesar das funções ou “qualidade” que estes detenham, pois tudo é efémero!), vivenciando estas com cordialidade no trato, carinho, educação e respeito entre todos, seja entre aquele que de momento ocupa o mais elevado grau na Ordem, seja sobre aquele que ainda agora foi iniciado nos nossos mistérios… Desta forma o Nível relembra que ninguém deve dominar outrem.

- Até porque todos nós teremos o mesmo fim. Tempus fugit… -.

E é a esse fim, que o Nível nos, contudo, remete; para o grande final, o memento mori,  a Morte!  Essa grande niveladora de todos os Tempos e que a todos acorre e que conduz ao Grande Oriente Eterno, para junto do Grande Arquitecto do Universo, na Grande Loja Celestial…

É também graças à Morte, que é feita a reflexão sobre o que devemos fazer, como devemos agir, qual o nosso papel no mundo, e qual a forma de melhor passarmos o tempo que o Altíssimo nos consignou. Carpe Diem!

E somente com o cimento do amor fraterno tal pode ser alcançável, pois já Salomão dizia nos seus Cânticos 8:6 :”… porque o amor é forte como a morte,….”, e como tal compete-nos perseverar nessa luta diária com a Morte até ao dia em que ela, finalmente, nos derrotará. E mesmo quando tal suceder, que este mesmo amor fraternal que nos une seja ele também a semente da lembrança, porque quem é relembrado nunca perecerá…

Aproveito ainda para recordar que o Nível encontra presença também ele, de certa forma e à sua maneira, em alguns Sinais Penais da Maçonaria. Também estes de uma certa maneira associados à Morte ou à forma como poderá decorrer a morte a quem quebrar os juramentos prestados perante todos e a bem da Ordem em geral. Juramentos estes feitos de plena vontade e em total consciência dos mesmos.
A não esquecer… tal miosótis este!

Bibliografia:
·         George Oliver, “A dictionary of Symbolical Masonry”, 1853
·         Henrik Bogdan & Jan Snoek , Brill Handbooks on
Contemporary Religion Vol.8, “Handbook of Freemasonry”, 2014
·         Humberto Antonio Camejo Arias, “Simbolismo e Diccionario Masónico”, 2014
·         Iván Michel Herrera, “ Las Herramientas Masónicas”, 2013
·         Jaime Ayala Ponce, “Diccionario Masonico y Esoterico”
·         Juan Carlos Daza, “Diccionario Akal de Francmasoneria”, 1997
·         Jules Boucher, “A Simbólica Maçónica”, 2006
·         Júlio Resende (GOB), “Cargos em Loja”, 2014
·         Plutarco (NS), Gran Logia Equinoccial del Equador B.·. R.·. L.·. S.·. “Luis Vargas Torres No. 17”,Simbolismo Masonico de las Dignidades y Oficiales, Las Joyas Fijas y Moviles”
·         Rizzardo da Camino, “Simbolismo do Primeiro Grau”, 1998