Estando a época das Instalações de Veneráveis Mestres nas suas
Respeitáveis Lojas terminada na maioria das Obediências Maçónicas, venho hoje
partilhar um texto que elaborei há algum tempo atrás, mas com a devida edição
do texto, face ao momento actual. Texto esse que pode ser consultado no seu
original aqui.
"É de fulcral relevância salientar o contributo que os
Veneráveis Mestres (VM) ("presidentes da Loja") têm em relação
à vida interna destas Lojas.
A própria dinâmica da Loja
depende grande parte da dinâmica imprimida pelo seu Venerável Mestre bem como
pela sua forma de gerir os "destinos" da Loja.
Não existem manuais de sobrevivência para um "VM",
existirão sim pequenos guias ou opúsculos que algumas Lojas ou Obediências
tenham escrito para facilitarem um pouco a vida de quem durante um ano (em
média) terá a responsabilidade de gerir a Loja, mas o essencial para a gestão
da Loja será a sua vivência e praxis maçónica. Sendo que uns
serão mais "ritualistas" e outros mais "administrativos" no
cumprimento das suas funções.
- Cada um como cada qual... -
Mas não obstante, esta diferenciação da forma de gerir e de
estar, pois a cada identidade corresponderá uma forma de gerir, permite a
vantagem mesmo que uma Loja tenha uma prática de trabalho homogénea, esta será
sempre um pouco diferente de ano para ano, possibilitando aos seus membros não
ficarem reféns de um certo marasmo que não lhes possibilite evoluir, seja
maçónicamente quer pessoalmente.
Outra das vantagens que diferentes abordagens ou estilos de
gestão permite, é que pelo facto de a presidência da Loja ser quase sempre
anual e dependente de sufrágio pelos Mestres que compõem a assembleia da
Loja, impedirá, por certo(!), determinadas formas gestionárias de
cariz ditatorial prolongadas no tempo; resultando que se um dado "VM"
desempenhar mal ou de forma nefasta o seu cargo, a Loja somente terá de o
"aturar" um ano - ou menos! -, mas possibilitando a alguém que
desempenhou um bom ofício, que soube conviver bem com as responsabilidades
que lhe estavam inerentes, e que num bom português eu
possa dizer que tenha levado a Loja a "bom porto", deixando
saudades e inclusive "fazendo escola", criando assim alguns
seguidores que queiram prosseguir nessa forma de (bem) gerir.
- E cada Loja é uma Loja, tal como cada maçom é diferente do seu
semelhante -.
Cada Loja tem a sua identidade própria, podendo ser parecida ou
não com as outras de uma mesma Obediência, até porque cada Loja é formada por
gente que também pode ser diferente entre si. A heterogenia dos seus membros
é uma das grandes qualidades que a Ordem Maçónica se pode orgulhar e enaltecer.
Mas por outro lado, e porque nem tudo "são rosas...",
nem sempre corre tudo bem ou como deveria ocorrer, dado existirem, por vezes,
Lojas que não deveriam estar sequer em funcionamento dado que o que se passa no
seu seio ser tudo menos maçónico, e quase sempre com a conivência do seu
"VM". - mesmo que ele não seja o responsável por tais actos, a Loja
depende dele e ele será sempre a pessoa que dará a cara pela Loja! - E por
causa disto é que um "VM" tem de ter características naturais de um
Homem bom, Livre e com bons costumes, - soa a "beato" mas é
assim que tem de ser - para que tais situações menos nobres não ofusquem a Luz
que deve resultar da Maçonaria e emanar na sociedade à sua volta.
Ser "VM" nao é tarefa fácil, não é "bater
malhete" como se queira... Existem determinadas regras a cumprir e a fazer
por cumprir!
Logo, ser investido nas funções de Venerável Mestre não poder ser
encarado de forma singela, mas antes como uma demanda tanto pessoal como
colectiva. Pessoal porque tal é desempenhado através de um labor próprio e que
depende intrinsecamente de si mesmo, e colectivo porque é feito a bem da Loja e
da Obediência em geral.
Não é fácil esta tarefa, tal como salientei. E uma parte
importante deste trabalho também e que não pode ser esquecida é o apoio que os
obreiros da Loja dão ao seu "VM", auxiliando-o na condução dos
"trabalhos", promovendo iniciativas em prol da Loja, produzindo
Trabalhos/Pranchas e debatendo respeitosamente a vida interna da
Loja.
Apenas uma Loja com obreiros activos e cujo "VM" seja
alguém que possibilite a troca de ideias efectivas, terá um bom prenúncio na
sua existência, pois as boas decisões nunca estão sozinhas e muitas das vezes
para serem correctamente aplicadas dependerão daqueles que, por sinal, as terão
de cumprir...
E por isto que anteriormente afirmei é que considero que uma
Loja não é do seu Venerável Mestre, mas sim, que o Venerável Mestre é que é da
Loja!
Mas nem sempre quem já foi "VM" quis despir o seu
cargo, isto é, são mestres que embora já não detenham essas funções, mas que
mesmo assim desejam e insistem em o a continuar a o ser... Obstaculizando de
forma premente o trabalho que o "VM" em exercício possa fazer.
Condicionando este com atitudes ou ideias suas e acicatando os demais obreiros
contra o desempenho do seu "VM"; considerando eu isto como uma forma
de rebelião que não deveria ter lugar num espaço onde a fraternidade deveria
ser um dos seus pilares fundamentais.
-Enfim, há de tudo um pouco... infelizmente! -
Até existem aqueles, sendo mestres ou não, que se acham a
"voz da razão" e assim se acharem os "donos da Loja",
bloqueando tudo (ou quase...) aquilo a que se propusera a fazer o seu
"VM". E esta forma de inquinar uma Loja não deveria ser aceite pelos
seus membros e muito menos ser feita com a complacência de um "VM",
pois foi ele o eleito para a direcção da Loja e mais ninguém. Uma coisa é um
"VM" aconselhar-se, outra diferente, é deixar outros
executarem o seu trabalho.
E é por isto que amíude existem cisões e/ou "abatimentos de
colunas" de Lojas com "adormecimentos" ou transferências de
membros para outras Lojas, porque já não é possível a convivência entre si.
Deixando eu à reflexão para os demais esta situação que é deveras importante
para a sobrevivência de uma Loja.
Um "VM" que saiba desempenhar bem o seu cargo nunca
permitirá que aconteça o que eu referi e saberá, ou pelo menos tentará, gerir
os egos e diferenças de opinião que existem no seio da sua Loja. Essa sim, será
talvez a maior dificuldade que poderá encontrar durante o seu veneralato, pois
as questões rituais ou administrativas, quando não são graves, são facilmente
tratadas ou ultrapassadas. E regra geral são as Admissões de profanos com as
suas Iniciações,os "aumentos de salários/graus", gestão
corrente da tesouraria da Loja e pouco mais. Aqui sim, um "VM" pode
pelas suas qualidades pessoais fazer diferente dos restantes que passam por
essa função; a tal "dinâmica" que abordei.
Por isso devem as Lojas contarem nas suas Colunas com gente com
conhecimentos suficientes para fazer prosperar a Loja. Apoiando-se (as
Lojas) nos seus membros mais antigos que com a sua experiência e sabedoria
corrigem qualquer "desvio administrativo" ou erro ritual que possa
surgir, bem como nos seus membros mais recentes, gente pronta a "arregaçar
as mangas" e por-se a trabalhar, assim os deixem.
Não basta viver à sombra de feitos do passado, ou à espera dos
ventos de mudança do futuro, as Lojas são "organismos vivos", logo
sujeitos à mudança, evolução, cisão... E desse modo deve ter nas suas fileiras
gente que pela sua forma de estar, pela sua sensibilidade pessoal e
apoiada nos vastos conhecimentos de alguns dos seus Irmãos, podem ser
"herdeiros naturais" da linha
de sucessão criada à vários
anos na sua Loja respectiva e que ainda hoje em dia é prática comum na maioria
das Lojas maçónicas.
E concluindo um texto que já vai longo, um Venerável Mestre como
sendo alguém com a responsabilidade da gestão anual da Loja, nunca poderá
pensar a curto prazo, apenas na gestão corrente, mas sempre com um pensamento a
médio/longo prazo, para que a Loja não divirja nos seus destinos, não se preocupando
em deixar um "legado pessoal" mas sim, algo sustentado pelo tempo. E
por isso mesmo, deve ser alguém com vontade de trabalhar e com "espírito
diligente" e rigoroso, sendo meticuloso e disciplinado no que
faz, devendo ser o melhor "relações públicas" da sua Loja,
pois ele é que dará a cara por ela; não devendo ter um perfil autocrático,
mas antes um elevado sentido fraterno.
- Somente tendo uma postura humilde perante os seus pares,
pode um "VM" ser exaltado pelos demais, e isto se assim o tiver
de ser... -
Para além disso, terá de ser alguém capaz de estabelecer pontes entre os Irmãos que tenham divergências ou contendas entre si, sendo um bom ouvinte e confidente, para além de ter a capacidade em aconselhar os obreiros naquilo que necessitem do seu "VM", e que saiba agir com a "parcimónia" necessária ao seu cargo, sem impulsos ou afins... pois terá de ter a ponderação necessária a cada decisão que tenha de tomar ou que venha a ter de aplicar em relação às funções a si designadas como representante da Loja na Obediência onde esta se encontra filiada. E chegando ao final do seu veneralato, ter a capacidade de fazer um auto-exame de consciência e reflectir no que se propôs a fazer, no que fez e no que poderia ter feito e extrair de aí as suas próprias conclusões, por forma a que quando se sentar no Oriente ao lado do próximo "VM", poder ser ele, também, uma "voz" de e em auxilio a este, porque a função de Past-Venerável ou Mestre Instalado não é mais que isso, uma voz em auxilio do novo Venerável Mestre.
Não deixando
nunca de ter sempre presente a noção de que por qual forma
pretenderá ser (re)conhecido no final do seu ano de trabalho, se por
ter sido "Venerável" ou pelo seu "Veneralato"...
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