O
próprio título desta publicação poderá parecer por si só uma possível
contradição.
Uma
analogia direta entre política e Maçonaria Regular nunca poderá ser feita em
concreto porque em Maçonaria Regular não se discute política. E muito
simplesmente porque tal não é permitido pelas suas próprias regras, os
seus Landmarks, que no seu sexto artigo impede que este tipo de
discussão possa ter lugar numa loja maçónica.
Mas
no que ao tema deste post concerne, a proibição existente em relação à
abordagem de temas políticos numa sessão maçónica é apenas em relação à
discussão e debate de ideias relativas à política partidária. Porque abordando
a política como conceito em si, conceito este como sendo algo que é
assumidamente necessário para quem vive na sociedade, a postura da Maçonaria
Regular é diferente.
O
conceito político, quando abordado no seu sentido lato, é permitido seja em
debates meramente filosóficos ou que tratem de temas sociológicos ou
antropológicos. Nestes casos, as ideologias são facilmente postas de
parte. Pelo que efetivamente nunca se discute se o pensamento político de
“direita” ou de “esquerda”, ou se uma monarquia ou república serão os
melhores sistemas políticos a serem vivenciados pela sociedade.
Salientando
também que, devido ao cumprimento do referido Landmark, não se discute se
uma religião é melhor ou pior que outra. Política e Religião em Maçonaria
Regular encontram-se no mesmo patamar.
-
Alíás atrevo-me a dizer que para a Maçonaria Regular, ambos estes conceitos
estão colocados naquelas prateleiras muito altas que é usual se ter em casa, em
que sabemos que as coisas lá estão, mas que não as conseguimos alcançar…-
Estas concepções de vida, políticas
ou religiosas, a serem discutidas, apenas o serão em em sentidos latos e
meramente filosóficos. Até porque geralmente estes temas, a par da clubite
desportiva, são os temas que mais dividem o Homem e fraturam a sociedade, e
a Maçonaria quer-se como sendo um centro agregador de pessoas e nunca como
sendo o seu foco de divisão.
Assim,
relativamente à política partidária, cada maçom seguirá as políticas ou
sentir-se-á representado pelo partido político que considerar que será o que
melhor o representa ou que aplica e/ou defende as ideias que para si são
consideradas como sendo as que maior valência deverão ser seguidas pela
sociedade civil. E apenas isso.
Não
obstante, é do conhecimento público em geral, que vários maçons são membros
ativos de vários partidos políticos, muitos deles mesmo pertencentes a alas
muito distantes politicamente e com um ideário político muito diferente e
bastante divergente até.
E
isso é lhes possível porque são livres para o fazer.
Em
nada a Maçonaria os impede de tal. Nem como instituição, nem os próprios
maçons entre si, como membros desta Augusta Ordem. Cada um fará o que lhe
aprouver quanto ao caminho que preferir percorrer, seja partidário ou não, e
respeitará do mesmo modo, o caminho que o seu irmão decidir prosseguir…
Estes
últimos parágrafos serão talvez alguns dos quais que mais confusão farão aos
profanos e que podem suscitar certas teorias conspiratórias, uma vez que,
pode-se sempre supor que, como poderá alguém que não se revê politicamente
noutra pessoa, e que por vezes em debates mais acalorados, sejam eles no hemiciclo, sejam eles em
qualquer tipo de campanha, em que algumas vezes podem inclusive roçar a falta
de respeito, para depois dentro de portas ou na sua intimidade, serem amigos e
considerarem-se como Irmãos?!
A
própria questão encerra a sua própria resposta.
Não
temos nós irmãos, familiares e amigos que têm opiniões contrárias às nossas?
Não
levam eles, em alguns casos, vidas muito diferentes da que levamos?
Não
têm eles concepções de vida muito distantes daquelas que consideramos como
sendo as mais válidas?
Quantas
vezes em debates de ideias mais acesos, não nos chateámos e depois tudo ficou
resolvido como nada se passasse?
Sim,
todos nós na nossa vida, passamos ou alguma vez passámos por esta
situação.
E
fraternidade é isso mesmo, é ter bastante respeito pelo próximo, consagrar o
direito à diferença de opinião, ser tolerante em relação a diferentes pontos de
vista, e ter uma postura coerente no âmbito do debate.
Por
isso é que a Maçonaria sobreviverá per
si, independentemente do posicionamento político dos seus membros.
Tudo
devido ao sentimento fraternal que estes têm entre si e que os fará colocar de
parte qualquer antagonismo que possa ser motivado, neste caso, por
questões político-partidárias.
E
depois no que toca à questão partidária, esta não se coloca à Maçonaria mas sim
ao Povo, que como integrante fundamental da sociedade tem o dever de participar
nela e contribuir para o seu progresso.
Assim,
cabe ao maçom, sendo ele mais um elemento que faz parte do povo, participar
como cidadão e como parte interessada nesta questão.
O
compromisso que o maçom assume com a Ordem é um compromisso de ordem moral e
ética, e que não envolve sequer, qualquer forma de política neste
comprometimento.
Pelo
que nada melhor que o seu exemplo e conduta para servir de paradigma aos
outros.
Logo, pelos seus valores, o maçom nunca poderá agir
impulsivamente nem de forma irrefletida, porque para além de não ser a forma de
correta para alguém agir, e depois porque está em permanência debaixo do jugo
da sociedade; assim o maçom que seja ativo politicamente na sociedade em que
está inserido, deve observar sempre o cumprimento dos valores maçónicos.
Porque estes valores em nada colidem com
a liberdade de ninguém e muito menos com os direitos de todos.
E se hoje em dia vivemos como vivemos, uma boa parte resultou de um trabalho imenso e intenso por vezes, que alguns maçons de outrora tiveram e que propiciaram para que hoje em dia possamos usufruir das condições que temos e que nos permitem ambicionar por mais e melhor...
Post Scriptum: Texto da minha autoria, editado e previamente publicado aqui.
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